HALÁL OU HARÁM, EIS A QUESTÃO!
Halál é uma palavra Al-Qur’ánica que
significa lícito, legal ou permitido. No que se
refere à comida, é o padrão Islâmico dietético,
segundo o prescrito na Shari‘ah (Lei
Isslámica). As linhas gerais do Al-Qur’án
ditam que todas as comidas são Halál, excepto
aquelas que são especificamente mencionadas
como Harám, isto é, ilícitas, ilegais ou
proibidas.
O Sagrado Al-Qur’án diz:
“Ó, crentes! Comei dos alimentos puros
que providenciamos por sustento e agradecei
a ALLAH se for só a Ele que adorais.”
Capítulo 2, Versículo 172
Os alimentos proibidos são
especificamente mencionadas no Sagrado Al-
Qur’án nos versículos que se seguem:
“Ele somente proibiu-vos o animal
encontrado morto, o sangue, a carne de suíno
e tudo que tenha sido degolado sob a
invocação de outro nome senão o de Allah...”
Capítulo 2, Versículo 173
“São-vos proibidos o animal morto
(que morreu de morte natural), o sangue, a
carne de porco, os animais que foram
degolados sob a invocação de outro nome
fora de ALLAH, os animais estrangulados até
à morte, os mortos por espancamento, os
mortos devido à queda ou dilacerados e
mortos por chifres, os devorados
(despedaçados) por um animal carnívoro,
excepto os que são degolados ritualmente
ainda com vida. São-vos proibidos também
os animais sacrificados para os ídolos.”
Capítulo 5, Versículo 3
O consumo de álcool e produtos tóxicos
é proibido de acordo com o seguinte
ensinamento:
“Ó crentes! A bebida alcoólica e os
jogos de azar, os ídolos e as setas de
adivinhação, são uma abominação do
trabalho de Satanás. Evitai-os para que
possais ser bem sucedidos.”
Capítulo 5, Versículo 90
A carne é o produto estritamente mais
regulado no grupo dos alimentos. Não somente
o sangue, a carne de porco e a carne de animais
mortos ou imolados são fortemente proibidos
aos olhos do ALLAH, exige-se também que
os animais Halál sejam abatidos pronunciando
o nome de ALLAH na altura do abate, tal como
o atestam os versículos que se seguem:
“Comei dos alimentos sobre os quais o
nome de ALLAH tenha sido pronunciado se
acreditais nas Suas revelações.”
Capítulo 6, Versículo 118
“E não comeis dos alimentos sobre os
quais o nome do ALLAH não tenha sido
mencionado porque isso é uma abominação...
os demónios inspiram os seus amigos para
que discutam convosco. Mas se lhes
obedecerdes, por certo sereis idólatras.”
Capítulo 6, Versículo 121
Do mesmo modo, é permitido o
consumo pelos Muçulmanos, de todos os
alimentos puros e limpos. A Jurisprudência
Isslámica contém certos princípios descritos em
Hadices para determinar se um certo animal
ou ave é lícito ou ilícito.
Por: Maulana Nazir Lunat
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Na terminologia de Fiqh o termo “nãohalál”,
ao contrário de “Halál”, pretende
indicar que no sistema “Halál” e “não-halál”
do Shari’ah existem graus de contaminação e
não-contaminação, do mesmo modo que
existem níveis de legalidade e ilegalidade.
A seguir apresenta-se a definição de cada
um dos termos técnicos de Fiqh que se referem
aos graus de comida Halál e não-halál:
Halál – (no contexto da comida) referese
aos alimentos que são positivamente legais
para serem consumidos pelo Muçulmano.
Harám – é o oposto do Halál e por isso
refere-se aos alimentos que são positivamente
ilegais e absolutamente proibidos.
Makruh – refere-se aos alimentos que
são abomináveis. Estes são classificados em
duas categorias:
• Makruh Tanzihi – refere-se àquilo que
é ligeiramente reprovado. Estes estão próximos
do Halál.
• Makruh Tahrimi – refere-se àquilo que
é severamente reprovado. Estes estão próximos
do Harám.
Mubáh – refere-se aos alimentos
neutros ou indiferentes, que podem ser
consumidos ou evitados; “Ibáhat”
(permissibilidade, legalização) é o princípio
básico de todas as questões e coisas que o
Shari’ah não proibiu nem condenou.
Mashkuq – existe uma área cinzenta
entre o claramente legal e o claramente ilegal.
Esta é a área do que “é duvidoso”. O espírito
Isslámico ordena aos Muçulmanos a evitarem
coisas duvidosas de forma a manterem-se
longe do que é ilegal. Rassulullah S.A.W. disse:
“Halál é claro e o Harám é claro. Entre os
dois existem questões duvidosas sobre as quais
as pessoas não sabem se são Halál ou Harám.
Quem os evita para salvaguardar a sua religião
(Din) e a sua honra está salvo, enquanto se
alguém se satisfaz nele pode estar a satisfazerse
no Harám...”
O Isslám é uma religião compreensiva
que guia os Muçulmanos através de um
conjunto de regras que orientam todas as
facetas da vida. Uma vez que a comida é uma
parte importante do dia a dia, as leis sobre a
comida revestem-se de especial significado.
A filosofia Isslámica sustenta que a
comida consumida pelo Homem afecta não
só a sua constituição física, como também o
seu carácter moral e o estado espiritual.
HALÁL E HARÁM POR
CATEGORIAS
As comidas lícitas e ilícitas podem ser
agrupadas em categorias:
O Reino Animal
Este inclui animais terrestres e peixes
(com barbatanas e guelras).
Todos os peixes do mar e águas fluviais
são permitidos. Há porém, diferença de opinião
entre os Juristas sobre a permissão de outros
frutos do mar, por exemplo, camarão,
caranguejo, etc. Não há nenhuma exigência
no abate de animais aquáticos.
Entre os animais terrestres, o porco é
especificamente proibidos, bem como os
animais carnívoros, certas aves e outros
animais.
Os produtos derivados (ovos, leite) dos
animais Halál, enquanto vivos são permitidos
para os Muçulmanos, salvo se houver
contaminação por qualquer ingrediente
proibido nos produtos inicialmente Halál, por
exemplo, o uso de pepsina ou coalheira animal
na indústria do queijo.
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O Reino Vegetal
Todos os produtos derivados de plantas
são legais para o consumo do Muçulmano,
excepto quando forem fermentados até
ficarem alcoólicas ou quando conterem tóxicos
ou ingredientes prejudiciais aos humanos.
O Reino Mineral
Geralmente as substâncias derivadas de
fontes minerais ou petrolíferas são Halál
excepto aquelas que podem tornar-se tóxicas
ou aquelas que constituem perigo para a saúde.
COMPREEENSÃO DA NATUREZA
DOS ANIMAIS HALÁL E HARÁM
Todas as vidas , tanto as dos animais
assim como as dos humanos pertencem a
ALLAH. Contudo, os animais foram criados
para o benefício do Homem, pelo que este
deve tratá-los adequadamente. É com esta base
que o Isslám considera determinados animais
como sendo alimento para o Homem e
prescreve como a respectiva carne pode ser
tornada pura e lícita (Halál) para o consumo.
O Al-Qur’án ordena à Humanidade a
consumir o que é Halál, criado por ALLAH
na terra e a não obedecer os passos do satanás.
Por isso, a moderação é a melhor forma,
porquanto não se deve comer tudo
indiscriminadamente, nem abster-se de comer
o que é bom e lícito, como fazem os ascetas.
As categorias que se seguem, incluindo
seus derivados ou por si contaminados, são
declaradas ilícitas (Harám):
• Carne putrefacta ou animais mortos
(morte natural). Aqui estão incluídos os mortos
por estrangulamento, por embate violento, por
queda de cabeça, feridos até à morte ou
devorados por outro animal selvagem. A carne
putrefacta e animais mortos são impróprios
para o consumo humano, pois o processo de
decomposição conduz à formação de químicos
prejudiciais ao Ser Humano.
• Sangue fresco ou coagulado. O
consumo de sangue seja de que animal for é
Harám, pois este contém organismos
causadores de várias doenças. Tais organismos
circulam no sangue sem que o corpo manifeste
qualquer sintoma da doença, daí que seja
prejudicial consumir sangue. Igualmente, a
carne que contenha muito sangue constitui um
perigo potencial de contracção de doenças
causadas por organismos contidos no sangue.
O sangue tirado dos animais contém bactérias
prejudiciais, produtos de metabolismo e
toxinas. Daí que o método a usar no abate do
animal para consumo humano deve permitir o
dreno total do sangue nele existente. Um dos
efeitos prejudiciais no consumo de sangue e
da carne rica em sangue é psicológico, pois tal
pode induzir a uma psicose carnívora e, por
consequência, a um comportamento
antropófago e violento.
• Porco e seus derivados. Serve como
vector para os vermes patogénicos penetrarem
no corpo humano. As infecções causadas pela
Traquinela Spiralis e Ténia Solium são
comuns. O ácido gorduroso, a composição da
gordura de porco, é incompatível com a
gordura humana e sistemas bioquímicos. A
carne do porco é expressamente proibida e
descrita como imunda e impura, pois o porco
vive na imundície, dela se alimentando, pelo
que o Isslám nos proíbe tudo o que seja sujo e
não higiénico.
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No caso da carne suína, não é apenas o
Al-Qur’an que impõe a proibição no seu
consumo mas também a Bíblia:
“Também o porco, porque tem unhas
fendidas e a fenda das unhas divide em duas,
mas não remói, este vos será imundo. Da sua
carne não comereis, nem tocareis no seu
cadáver, estes vos serão imundos.”
Levítico 11, Versículos 7 e 8
• Animais degolados ou abatidos
pronunciando outros nomes fora de ALLAH.
• Animais degolados ou abatidos sem o
pronunciamento do nome de ALLAH.
• Animais mortos de forma que seu
sangue não tenha saído na totalidade. Os
animais que morrem por causas naturais são
universalmente considerados como ilícitos ou
impróprios para o consumo humano. Os
animais podem também morrer devido a
doenças ou ao comer plantas venenosas, sendo
por isso impensável considerar a carne desse
tipo de animais para alimentação.
• Animais que utilizam dentes ou garras
para caçar e devorar as suas presas, como
leões, leopardos, ursos, lobos, cães ou gatos
são também todos Harám.
• Há ainda os que mesmo sendo
herbívoros, como é o caso do burro, da mula
e do elefantes, são Harám;
• Aves com unhas aguçadas que
recorrem às suas garras para caçar ou rasgar
as suas presas (aves de rapina), como falcões,
águias, mochos, abutres, etc. As aves que não
recorrem às suas garras para caçar e que
alimentam-se de grãos, como por exemplo, a
galinha, o pato, o pombo, o peru ou o avestruz,
são Halál.
• Os que não têm sangue, como mosca,
aranha, escorpião, formiga, piolho, gafanhoto,
etc.). Exceptuando o gafanhoto que é Halál,
todos os outros são Harám.
• Os que têm sangue, mas que não é
corrente (cobra, lagartixa, osga, etc.), todos
eles são Harám.
• Os que têm sangue corrente, como o
rato e a toupeira, que escavam a terra vivendo
debaixo dela, esses são Harám. Deste grupo
exceptua-se o coelho que é Halál.
Os animais que têm sangue corrente e
que se alimentam de ervas e grãos, não rasgam
com os seus dentes nem caçam, sejam eles
domésticos ou selvagens, são Halál; por
exemplo, o cabrito, o camelo, o boi, o carneiro,
o búfalo, a gazela.
PARTES DE ANIMAIS ABATIDOS
QUE NÃO SE PODEM CONSUMIR
Nos termos de Shari´ah, é Makruh
Tahrimi consumir as seguintes partes de
animais ou aves, mesmo que estes sejam Halál,
e devem ser completamente evitadas:
• Órgãos sexuais do macho e da fêmea;
• Os testículos;
• A bexiga;
• A vesícula biliar (isto inclui a bílis);
• O sangue dum animal ou ave abatido
que foi derramado;
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• O gânglio (i.é, qualquer pedaço rijo na
parte tendinosa). Um pedaço de carne
proveniente de doença entre a pele e a carne.
Um quisto como inchaço do tendão. (Isto inclui
as glândulas que tenham se tornado espessas;
a medula espinal, veias e nervos que se
tornaram rijos, e também o tecido ósseo rígido
ligado ao osso).
É Makruh consumir a carne de animais
que habitualmente se alimentam de sujidade
sem que antes sejam mantidos num local
fechado (de “quarentena”) durante algum
tempo e alimentá-los com produtos limpos e
sãos, limitando-os deste modo o consumo de
sujidade antes de serem degolados.
O período de “quarentena”
recomendável é de três dias para a galinha,
quatro para o cabrito e dez para o boi ou o
camelo.
DA CONSCIÊNCIA ENTRE
O HALÁL E O HARÁM
A falta de cuidado no consumo de
alimentos duvidosos ou Harám é um sinal de
um Imán (fé) “doente”. Se o estado de
negligência sobre o que se consome perdurar,
futuramente o Halál/Harám serão
eventualmente vistos como assuntos triviais,
fazendo com que o Imán “sufoque” e “morra”.
A julgar pelo crescente número de
Muçulmanos que comem fora em casas de
pastos ou em outras lojas de comidas rápidas,
parece que esta tendência é crescente, em
proporções alarmantes no seio dos
Muçulmanos.
O Harám está-se a tornar tão comum e
corrente entre as pessoas, que dificilmente
ficam chocadas ou perturbadas, quando algo
é descoberto como sendo Harám, embora
possam estar a consumir tal coisa há muito
tempo. Quase que nem pestanejamos. Nem o
remorso ou um pouco de sentimento de culpa
toca o nosso coração. Este é um sinal claro de
um coração dessensibilizado.
No passado, as pessoas podiam não ser
muito escolarizadas ou informadas como
parece hoje, mas estavam conscientes das
questões do Halál/Harám. A estes assuntos
era lhes dedicada enorme atenção, mesmo as
crianças pequenas eram avisadas (ensinadas)
a observar para sempre em suas mentes e
corações os preceitos Isslâmicos.
E porque as pessoas se tornaram tão
desleixadas no que respeita ao Harám?
Parte da resposta pode ser encontrada
numa atitude cada vez mais vulgar e num
equívoco que prevalece: pensa-se que desde
que a pessoa não saiba que determinada coisa
é Harám, consumi-la não o fará mal. Tal forma
de pensar está totalmente errada.
Os efeitos do Harám permanecerão, não
importa se o produto foi consumido com
conhecimento ou sem conhecimento. É como
consumir veneno. Somente um apoucado de
inteligência poderá acreditar que a falta de
conhecimento sobre uma substância venenosa
irá neutralizar o efeito do veneno. O veneno é
veneno e assim permanecerá independentemente
do conhecimento ou ignorância sobre
os seus efeitos: irá actuar, matar ou causar
sérios danos.
Com as comidas Harám é a mesma
coisa. Matam espiritualmente ou causam sérios
danos espirituais ao consumidor.
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A ORIGEM DO PROBLEMA
De entre a longa lista de comidas
duvidosas e Harám, os produtos à base de
carnes estão em primeiro lugar.
Tais produtos, nas suas variadas formas,
são preparados e vendidos em casas de
comidas rápidas em todo o lado sob o disfarce
de “Halál”.
Os certificados Halál duvidosos são
exibidos para os Muçulmanos desatentos. Estes
ficam satisfeitos com esta segurança duvidosa,
compram e consomem sem hesitações. Pior
ainda, mesmo as suas famílias, inocentes estão
expostas àquela situação. Tal prática é
prenúncio de mal-estar para o futuro do
Ummah Muçulmano.
A maior preocupação é o número cada
vez mais crescente de casas de pastos não-
Muçulmanas, mas que ostentam o sinal Halál.
Várias vezes têm sido alertados os
Muçulmanos para tal situação, mas
infelizmente parece que tais alertas caiem em
ouvidos de mercador.
Os doces e comidas enlatadas não devem
ser consumidos sem, pelo menos, verificar os
seus ingredientes. Quando houver dúvida sobre
algum produto deve-se, primeiro, esclarecer a
questão junto dos Ulamás.
Alguma vez ao comer no MacDonalds
ou no Chicken Licken, ou ao fazer compras
no Shoprite ou no Pick’n Pay já reparou nos
rótulos da comida que compra? Ou já
questionou a carne do seu talho local? Tem a
certeza de que tais produtos são o que dizem
ser - Halál? Já reparou na diferença dos rótulos
que dizem Halál dos produtos processados?
Serão esses rótulos uma garantia de que os
produtos são de facto Halál? Já se sentiu
confundido com a variedade de certificados e
logos que clamam pela autenticidade Halál?
Conhece os padrões desses rótulos? Qual é a
eficiência do seu processo de monitoria ou será
a instituição certificadora suficientemente
competente para ser uma autoridade na
certificação do produto?
É tendo em vista este facto que o Isslám
tem sempre demonstrado grande precaução
sobre o que quer que seja consumido. Nada
deve ser consumido sem ter analisado
cuidadosamente a sua fonte e ingredientes.
Apesar de os fabricantes, em muitos países,
serem forçados por lei a revelar os ingredientes
de comidas processadas, ainda são capazes de
camuflar a verdade por detrás da linguagem
científica e terminologias complicadas.
O consumidor Muçulmano menos
desconfiado, ditosamente desprevenido deste
facto, consome com prazer o produto que pode
conter um ingrediente Harám, tal como a
banha de porco ou certos emulsionantes, sem
se aperceber de que está a prejudicar-se.
ALGUNS FACTOS SOCIAIS
Hoje em dia, nota-se em nossas urbes e
não só, o uso abusivo e indiscriminado do
termo Halál em quiosques, bares, restaurantes,
etc.
É questionável se os que escrevem essa
palavra sabem ou não o seu real significado, o
seu alcance, bem como as suas implicações.
É frequente o seu uso em locais
incompatíveis com o significado da própria
palavra, como por exemplo em locais onde se
servem bebidas alcoólicas, se consomem
carnes impróprias para os crentes Muçulmanos
e onde se praticam actos devassos.
Há relativamente pouco tempo foi
inserido num dos jornais de grande tiragem
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Sautul Isslám edição n.º 17
da praça, um anúncio relativo à vinda de um
músico da Índia, e sobre o concerto que iria
ter lugar na vizinha África do Sul. No mesmo
anúncio, para além dos preços para o referido
concerto, constava: “Jantar Halál”. Mas será
que o Halál está confinado apenas à refeição?
Será que o concerto em si era Halál? Isto é
como procurar uma refeição Halál que
entretanto é regada com cerveja ou vinho. Aí
já não se quer saber se o que vem a seguir
também é Halál.
Quer parecer que muitos dos que fazem
uso deste termo devem pensar que se trata de
um rótulo ou marca comercial.
O conceito Halál não se restringe apenas
à comida e à bebida, mas também ao vestuário,
ao negócio, à adoração às relações sexuais,
enfim, à toda actividade quotidiana.
Cada muçulmano quando adquire
comida ou carne, deve investigar a sua
proveniência, bem como a sua composição,
para aferir se o que está comprando é Halál
ou não. O Muçulmano deve ser muito
cuidadoso na aquisição de produtos
alimentares em estabelecimentos, devendo
antes ler os rótulos para saber quais os
ingredientes usados no seu fabrico, pois por
vezes um único ingrediente não-Halál, torna
todo o produto Harám. Por exemplo, as
bolachas, os bolos, as sopas, os sorvetes, os
doces, os chocolates, etc., não se devem
comprar, nem se devem comercializar sem
antes se determinar os seus ingredientes.
Infelizmente entre nós, há alguns
Muçulmanos desleixados, atraídos pelo
aparente brilho social dos outros, a ponto de
os transformarem em seus ídolos, assimilando
os seus hábitos e costumes, muitas vezes
bizarros, tudo fazendo para não os contrariar.
E se alguma prática isslámica faz parte dos
hábitos desses ídolos, ficam animados e
satisfeitos, mas se tal prática contraria os
ensinamentos isslámicos, tentam sempre
encontrar alguma forma de interpretação ou
harmonização com o único fito de agradar a
esses seus patrões.
Para esses, o Halál é o que foi
decretado Halál pelos outros e o Harám é o
que foi decretado Harám pelos outros.
Esqueceram-se que o Isslám é a palavra de
ALLAH, sendo uma palavra completa, para
ser seguida.
Portanto, o Muçulmano não só
deve abster-se do Harám, mas também das
coisas duvidosas, e cada um deve conhecer as
coisas Harám para que assim se possa abster.
MALEFÍCIOS DO HARÁM
O Harám é espiritual e físicamente
prejudicial. ALLAH Ta’ ala, na Sua infinita
Bondade e Graça para com os Seus servos,
proibiu o consumo de Harám devido aos seus
terríveis efeitos no corpo e alma do Homem.
O Harám está poluído e contaminado.
Surge e desenvolve-se da imundície. A sua
composição é sobretudo de imundície. Isto
causa sérios danos aos órgãos, tecidos e outras
partes do corpo. A saúde humana é atingida e
vulnerável a doenças. Assim, o corpo é sujeito
a tormento, dor, sofrimento e agonia. O trauma
mental resultante dessa situação é uma fonte
adicional de angústia.
Para além disso, a doença, no mundo
actual, é uma calamidade; é muito caro ficarse
doente hoje em dia. Os custos médicos são
elevados e proibitivos e é por si só um assunto
doloroso.
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A ABSTINÊNCIA É A MEDIDA
DE UMA PESSOA SENSÍVEL
Face ao que foi descrito, por um lado, é
melhor e sensato praticar um pouco a restrição
e abstinência do Harám e comidas duvidosas,
poupando-se neste caso a desastres físicos e
espirituais.
Por outro, uma atitude descuidada sobre
este assunto – comer sem cuidado – as suas
consequências manifestar-se-ão tarde ou cedo.
Uma pessoa inteligente e sensível optará
por uma atitude de precaução e abstinência
quando for necessário. Refrear os desejos do
coração e as vontades do estômago é o segredo
de uma pessoa íntegra e a forma de ser dos
Muçulmanos devotos.
O CUMPRIMENTO DAS LEIS
ESTABELECIDAS POR ALLAH
Os princípios básicos sobre a lei dos
alimentos são mencionados no Al-Qur’án. As
leis sobre alimentos são explicadas e postas
em prática através do Sunnah (a vida, acções
e ensinamentos de Rassulullah S.A.W. e suas
ilustrações pelos Sahábas R.A.), segundo
registos em Hadices. Estas leis são
rigorosamente observadas pelos Muçulmanos,
independentemente da etnia e origem
geográfica.
A aplicabilidade das leis se enquadra em
vários contextos, de entre os quais salientam-se:
O consumo de carne putrefacta
e animais mortos
É geralmente reconhecido que comer
carne putrefacta é ofensivo para a dignidade
humana e nenhuma pessoa sã a consome, mas
a carne de animais mortos não é fora do
comum nos países ocidentais.
Um certo número de animais morre de
choque antes de serem devidamente abatidos.
A carne de tais animais não seria apropriada
para o consumo dos Muçulmanos. Por isso, é
necessário que haja uma monitorização
adequada e supervisão cerrada pelos
Muçulmanos nos matadouros.
Abate adequado
Existem requisitos rigorosos a obedecer
para o abate de animais:
a) O animal deve ser da categoria Halál.
b) O animal deve ser abatido por um
Muçulmano.
c) O nome de Allah deve ser
pronunciado no momento do abate;
d) O abate deve ser feito cortando o
pescoço num certo ponto, abaixo da glote e a
base do pescoço, de modo que o animal tenha
morte rápida. O esófago deve ser cortado
juntamente com a veia jugular e a artéria
carótida. A corda espinal não deve ser cortada
e nem a cabeça deve ser cortada
completamente.
e) Existem outras condições que também
devem ser observadas. Estas incluem dar um
tratamento adequado ao animal, o uso de uma
faca bem afiada, etc. Estas condições garantem
que haja um bom tratamento ao animal antes,
durante e depois do abate.
A partir do exposto está claro que ambos
a Fé e o exacto método são condições
essenciais para o abate Isslámico de animais
correctamente.
A obrigação de pronunciar o nome de
ALLAH antes de degolar um animal serve para
enfatizar a santidade da vida e o facto de que
toda a vida pertence a ALLAH.
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Sautul Isslám edição n.º 17
Se um Muçulmano omitir
intencionalmente o pronunciamento do nome
de ALLAH no abate do animal, será
considerado Harám mesmo se as veias e
artérias exigidas tiverem sido cortadas
(Capítulo 6, Versículo 121 anteriormente
mencionado).
Contudo, se o abatedor tiver tido a
intenção de mencionar o nome de ALLAH,
mas devido ao esquecimento tiver omitido, o
animal será, neste caso Halál.
Pronunciar o Tassmiyah ou apenas
‘BISSMILLAH’também se traduz em
sentimento de carinho, compaixão e serve para
prevenir a crueldade.
Métodos modernos de
morte por choque
Ao contrário dos métodos envolvendo
choques eléctricos ou mecânicos, o método
Isslámico é sem dúvidas o melhor, mais digno
e mais eficiente no abate de animais para
consumo.
Produz morte devido á rápida perda de
sangue, elimina a dor e permite que o animal
sangre totalmente. A história dos matadouros
eléctricos e mecânicos prova claramente que
depois de mais de meio século de experiências,
não há um único método de morte por choque
que pode ser considerado “digno” para os
animais ou que produza carne da qual o
máximo possível de sangue tenha sido extraído.
O único beneficiário do abate eléctrico ou
mecânico de animais é a indústria de carnes.
Estes métodos proporcionam uma alta
produtividade no processamento de carnes.
Usando estes métodos, uma larga quantidade
de animais pode ser abatida num determinado
tempo e as vantagens económicas são dessa
forma muito maiores.
Tem sido no interesse dos
estabelecimentos comerciais a aplicação de
métodos que envolvem o abate por choque
como uma maneira de impedir que o animal
fira os abatedores.
Muitas vezes, o valor comercial é bem
sucedido em conseguir passar a legislação para
apoiar e fazer vencer aqueles métodos.
Sendo o Isslám uma religião viável para
todos os tempos, questões contemporâneas são
revistas caso a caso pelos Juristas Isslámicos.
Portanto, dados os constrangimentos
apresentados, alguns métodos de choque têm
sido permitidos.
Os matadouros que implementam os
métodos de choque necessitam de ser
rigorosamente monitorados, visto que alguns
animais morrem depois do choque e antes do
abate (ou por fraqueza ou por atraso no abate
depois de sofrerem o choque, ou devido à
contundência do aparelho de choque). Isto
torna o animal Harám.
Mais ainda, se não pode ser certificado
se o animal morreu antes ou depois do abate,
a carne tornar-se-á duvidosa. Será, portanto,
não permitida para o consumo dos
Muçulmanos.
Abate mecânico
Desde que as condições básicas para o
abate Isslâmico, anteriormente descritas, sejam
adequadamente obedecidas, a legalidade do
abate mecânico pode ser considerada.
Mais ainda, o operador da máquina e a
pessoa que manuseia as aves no local do abate
deve ser Muçulmana e o nome de ALLAH
deve ser pronunciado no abate de cada ave (o
pronunciamento gravado é totalmente
Sautul Isslám
34
edição n.º 17
incorrecto). Todas as veias e artérias devem
ser devidamente cortadas para permitir que o
animal sangre total e adequadamente.
Apesar deste método não estar de acordo
com o Sunnah, pode porém ser aceitável se as
condições mencionadas forem cumpridas.
Suíno
Carne de porco, banha ou qualquer
produto ou ingrediente derivado, são
categoricamente proibidos para o consumo do
Muçulmano. Todas as possibilidades de
contaminação a partir da carne de porco para
os produtos Halál devem ser evitadas
completamente.
De facto, no Isslám, a proibição vai para
além do consumo; por exemplo, um
Muçulmano não deve comprar, vender,
transportar, abater ou tirar benefícios, de forma
alguma, de suíno ou outros meios Harám.
Sangue
O sangue que se derrama (em líquido)
não é geralmente vendido nos mercados ou
consumido, mas os produtos que são feitos a
partir do sangue e seus ingredientes são.
Existe uma concordância geral entre os
estudiosos religiosos de que qualquer alimento
obtido a partir do sangue é ilícito para os
Muçulmanos.
Álcool e outros tóxicos
As bebidas alcoólicas, tais como o vinho,
a cerveja e as bebidas espirituais são
estritamente proibidas. Os alimentos que
contêm quantidades de álcool, por menores
que sejam, são também proibidos pois, tais
alimentos, por definição, tornam-se impuros.
As drogas e outros tóxicos que afectam a
mente, saúde e o desempenho em geral são
também proibidos. Os tóxicos são
considerados prejudiciais para o sistema
nervoso por afectarem os sentidos e
discernimento humanos, o que conduz a
problemas sociais e familiares e em muitos
casos à morte. O consumo directo, ou
misturado com alimentos, destes produtos são
completamente ilícitos.
Aditivos, produtos derivados
e constituintes extraídos
O princípio é de que se um aditivo ou
extracto é derivado de uma fonte Halál, então
este também será Halál, e poderá ser
adicionado às misturas de comidas Halál sem
afectar de forma alguma o produto final.
Porém, se o aditivo for derivado de uma
fonte não-Halál, então este também não será
Halál, e irá contaminar o produto final se for
adicionado à misturas de comidas. Os aditivos
Harám contaminam o produto final e tornam
o alimento ilícito para o consumo do
Muçulmano.
Os aditivos, temperos e outros de origem
não animal e não alcoólica são unanimamente
aceites.
Higiene
As comidas Isslámicas estão baseadas na
limpeza, saneamento e pureza. Todos os
utensílios devem estar limpos e livres de
contaminação de quaisquer substâncias ilícitas
e impuras.
É nosso Duá fervente de que
ALLAH faça deste sonho uma realidade
e guie a todos nós para que nos
empenhamos ao serviço da Humanidade
e que Ele seja agradado por todos nós.
Ámeen.
FONTE : SAUTUL ISLAM - MOÇAMBIQUE